[...] Natural do Estado do Ceará, terra das secas e de lutas históricas do povo, Rui Facó veio à luz em 1913. Ali passou sua infância e adolescência. Já ao terminar o ginásio, pobre, teve que ir trabalhar. Mostrou desde então sua inclinação para o jornalismo. A vivência naquelas terras deixou profundas lembranças no seu raciocínio, que se manifestariam depois nos seus escritos. Atendendo à vontade de sua família, ingressou na Faculdade de Direito, e logo entrou em contato com intelectuais de valor como Rachel de Queiroz, Jáder de Carvalho, etc. Inseriu-se, em breve, na atividade política, escolhendo o Partido no qual militou até que a morte o colheu.
Logo entrou no turbilhão de agitações de 1935, colocandose ao lado das lutas do povo. [...] Depois emigrou para a Bahia, onde concluiu o curso de Direito, trabalhou nos "Diários Associados" e experimentou penosa prisão. Constante e infatigável na sua trajetória, participou na fundação e colaborou assiduamente nas revistas Seiva e Flama. Lá mesmo contraiu matrimônio com a ex-colega de faculdade Júlia Guedes, que o acompanhou em sua vida agitada.
Durante a II Guerra Mundial participou das lutas do povo contra o nazi-fascismo, com sua pena e sua palavra. No término da guerra transportou-se, com sua mulher e seu filho, para o Rio. Novos horizontes, no após-guerra, abriram-se para Facó e sua atividade jornalística ao ingressar na redação de A Classe Operária, mantendo laços com outros jornais e revistas do País, para os quais colaborou. Sua vida, suas alegrias e tristezas, seu ser tornaram-se parte inseparável da imprensa do povo.
Em 1952, partiu para a União Soviética, onde continuou em sua atividade literária e jornalística na Rádio de Moscou, e copilando dados sobre fatos históricos do Brasil, para as obras que elaborou e ia publicar.
Facó, com seu espírito observador, com sua sensibilidade captadora dos fenômenos novos que iam surgindo, profundamente identificado com as coisas do povo, não perdeu esta peculiaridade sua de cearense e baiano pobre, mesmo durante a vigência do sistema do culto à personalidade. Aprendeu muito com a construção do socialismo, mas sentiu o profundo negativismo do sistema do culto à personalidade sobre o espírito criador no desenvolvimento cultural, especialmente o intelectual.
Ao regressar em 1958, sentiu com maior intensidade ainda a necessidade de escrever, de expor, de falar ao povo, do povo e pelo povo. Realmente esses cinco anos foram fecundos para a sua produção literária: tanto na redação de Novos Rumos, onde trabalhou até que a morte o surpreendeu, no cumprimento de uma tarefa do seu jornal, como escrevendo para várias revistas e ultimando sua obra, Cangaceiros e Fanáticos.
RUI FACÓ, O ESCRITOR[...] É sabido que Facó escreveu Brasil Século XX a pedido de uma editora argentina que se havia proposto a difundir o conhecimento recíproco dos povos da América. Facó, ao cumprir este contrato, deu uma valiosa contribuição para o nosso conhecimento mesmo da nossa realidade. Ele aborda alguns dos principais problemas de nossa formação, dos momentos históricos marcantes, realçando seus aspectos sociais. Além disto, procura analisar estes fatos do ponto de vista das classes em ascenso, e regressão, e seu papel neste processo.
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